domingo, 19 de março de 2017

Quando a gente ama, mas não gosta mais

De repente não mais que de repente o amigo próximo fez-se distante – ou será que fomos nós que tomamos aquele velho navio?
Diz a canção que a hora do encontro é também a da despedida. Demorei um tempo para entender a dualidade desse verso: pessoas se (re)encontram numa estação ou cais, enquanto outras tantas se despedem e, muitas vezes, quando nos encontramos com nós mesmos nos  despedimos de velhos amigos.
E como é triste reconhecer (e admitir) isso! Dói tanto quanto apartar-se de um grande amor.
Aliás, como reconhecer que uma amizade acabou? As amizades acabam?
Há quem diga que o que é real não tem fim. Que a amizade quando é verdadeira é para a vida inteira. Mas na prática não é bem assim que funciona.
O afeto pode ser para a vida inteira, mas a vontade de estar junto, de trocar, de dividir, não.
O sentimento de amizade pode ser eterno, mas o desejo de manter um relacionamento com um amigo, nem sempre.
Dia desses, tomando dois cafés e uma água com gás com um amigo querido, ele me disse:
– Sabe aquele tipo de amigo que a gente ama muito, muito mesmo, que é capaz de doar um rim caso ele precise, mas que a gente não gosta mais?
Respondi:
– Não! Como é isso?
Foi então que ele me explicou que o amor por um amigo pode ser eterno, mas que para dividir a vida, as alegrias, as dores, os dramas, os cafés, os vinhos, os anos, as belezas e os danos é preciso sentir prazer na partilha, empatia e gostar imensamente da companhia da pessoa.
As amizades contam com uma boa dose compatibilidade – de gênio, de gostos, de pensamentos, de energia – e quando uma das partes muda seu jeito de pensar, sentir e agir no mundo, é natural que a compatibilidade ceda lugar à incompatibilidade e com isso o prazer de estar junto arrefece.
O que o afeto tem a ver com isso? Absolutamente nada! Nenhuma incompatibilidade é capaz de anular o amor que sentimos por um amigo. Nenhuma mudança, evolução ou crescimento de uma das partes é capaz de apagar a importância que certas pessoas tiveram e têm em nossas vidas.
Às vezes acontece de aprendermos a desdramatizar as coisas antes de um amigo, ou a lidar com nossos medos e faltas de maneira mais leve e efetiva, ou, ainda, de mudarmos completamente de ideia acerca de um assunto, tornando os encontros superficiais e chatos. Como trocar com quem não está na mesma sintonia que nós?
Pode acontecer, também, de nos apaixonarmos por alguém e essa paixão nos roubar de nós e de todos que nos cercam; uma mudança de cidade, um insight poderoso na análise, um salto de paraquedas, um tropeço na calçada.
Se tudo pode acontecer a qualquer momento, se nunca somos os mesmos quando acordamos pela manhã, se um homem não se banha no mesmo rio duas vezes, por que teimamos em não aceitar que as amizades também se transformam e que assim como as relações amorosas às vezes terminam?
Talvez meu amigo tenha razão: é possível, sim, amar uma pessoa, mas não gostar mais dela. Constatar isso é mais desconcertante que rever um grande amor. Desorienta. Traz uma sensação incomoda de traição. Mas fingir intimidade (e empatia) é pior que fingir orgasmo, então, o jeito é manter a espinha ereta, a mente quieta, o coração tranquilo e praticar a entrega.

domingo, 15 de janeiro de 2017





Na sexta-feira eu estava conversando com a Kátia, ela é cliente da empresa do meu pai há muitos anos, e devido ao fato de nos falarmos frequentemente tratando de negócios, nos tornamos amigas. Nunca nos vimos pessoalmente, pois a Kátia  mora no Rio Grande do sul e sempre nos falamos  por telefone, e-mails, mensagens, e via  whatsapp.

Ela é super simpática, trabalhadeira, de personalidade forte e gosta de conversar, assim como eu, algo que está quase em desuso, nos tempos de hoje. Ela é casada, tem um filho adolescente e conversamos de tudo e sobre tudo. Ás vezes ficamos até tarde falando dos anseios da vida,  dos sonhos, aconselhando uma a outra... parece que somos amigas desde a infância. 

Já fazem mais de dez anos que nos falamos.  Dai na sexta-feira, ela disse bem assim, vou te falar uma coisa: Sabe que eu te achava chata!

Tive um ataque de riso. Pensei, ela nem sabe, mais tenho até fã clube aqui kkkkkkkk

Ri, porque achei engraçado ela falando e porque de fato, todo mundo tem essa impressão mesmo. As pessoas me acham chata, séria demais, certinha demais, e depois acabam me falando: nossa, eu achava que você era chata, ou, você parecia chata, etc. Não me importo, pois o tempo mostra quem nós somos, não precisamos provar nada a ninguém. E no fundo, fala sério, quem não é chata de vez em quando? (risos)

Senti que ela queria conversar e que aquilo a estava incomodando. Dai ela continuou: desculpa a sinceridade, em algumas vezes que falei com você, eu pensava: "ela se acha!" 

Imaginem... eu quase morri de tanto rir, deixando ela mais "constrangida" (o que não era minha intenção), é que foi tão espontâneo, nossas conversas são assim. E, como nos "conhecemos" a tanto tempo,  mesmo que por telefone ou mensagens, dá para perceber como o outro se sente.

A Kátia continuou dizendo... como é feio julgar sem conhecer, e agora você é uma pessoa tipo, familiar sabe...muito estranho isso!!!

 Tive que ficar contida, porque a gente percebe a preocupação do outro e, é importante ter empatia, se colocar no lugar do outro, pois, e se fosse ao contrário?!

Sempre tive muito respeito e admiração por ela, não apenas pela relação comercial, mais  principalmente, porque fui educada dessa maneira, independentemente de qualquer pessoa ou vínculo. Não que ela tenha sido mal educada comigo, jamais!!! Antes de começar a conversar com ela, de ter mais intimidade, eu achava que ela era bem mais velha, tipo, como se fosse uma senhora kkkkkk quando na verdade somos praticamente da mesma idade. Acho que é porque ela começou a trabalhar muito cedo, assim como eu.

Além do mais, eu cresci ouvindo minha mãe falar muito bem dela, não poderia ser diferente, e com o passar dos anos fomos nos tornando grandes amigas.

O verdadeiro significado de amizade nem sempre significa presença física, convivência diária, não! Mesmo porque,  existem a preocupação, o respeito, a admiração, o carinho, etc., que vão muito além da presença física.

Como diz um filósofo: "amigos não precisam estar, amizade precisa ser!!!"

E sou imensamente feliz pelo presente dessa amizade e só tenho a agradecer :)