"A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla."
sexta-feira, 22 de abril de 2022
terça-feira, 5 de abril de 2022
As alianças
Mais importante do que encontrarmos oportunidades boas é a nossa capacidade de refletirmos melhor a respeito das pessoas às quais nos associamos. A ideia não é você se fechar a elas, muito pelo contrário, mas, é importante estar alerta e ter posições bem definidas em relação a elas.
Pensando bem, você entenderá que não é com qualquer uma que você pode ter conversas sérias, não é com qualquer uma que você pode conversar deliciosas bobagens, ou seja, cada pessoa pede um tipo de contato. Além disso, há também o ponto de que devemos ir até as pessoas sabendo o que esperar delas.
Não adianta nada imaginar que será possível encontrar sorvete num açougue. Ao invés de tentar mudar os outros, procure entender que cada pessoa tem suas peculiaridades, sua individualidade.Ao mesmo tempo, você precisa fazer valer as suas próprias necessidades. Quer dizer: num relacionamento, cada pessoa cede um pouquinho. Quando apenas uma parte cede, não é relacionamento, é jogo de submissão.
Ostra Feliz Não Faz Pérola!
Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos
gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, sopas. Sem
defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores. Para que
isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras,
dentro das quais vivem. Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras,
muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de
dentro de suas conchas, saía uma delicada melodia, música aquática, como se
fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de
uma ostra solitária que fazia um solo solitário... Diferente da alegre música
aquática, ela cantava um canto muito triste... As ostras felizes riam dela e
diziam: "Ela não sai da sua depressão..." Não era depressão. Era dor. Pois um
grão de areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela não
tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da
dor.
O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe
provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com
uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto
triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia
lhe causava. Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a sua rede
e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se
alegrou, levou-a para sua casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras.
Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que
estava dentro da ostra. Ele tomou-a em suas mãos e deu uma gargalhada de
felicidade; era uma pérola, uma linda pérola. Apensa a ostra sofredora fizera
uma pérola. Ele tomou a pérola e deu-a de presente para a sua esposa. “Ela ficou
muito feliz...” Ostra feliz não faz pérolas!!!
Isso vale para as ostras,e vale
para nós, seres humanos.
No seu ensaio sobre O nascimento da tragédia grega a
partir do espírito da música, Nietzche observou que os gregos, por oposição aos
cristãos , levavam a tragédia a sério. Tragédia era tragédia. Não existia para
eles, como existia para os cristãos, um céu onde a tragédia seria transformada
em comédia. Ele se perguntou então das razões por que os gregos, sendo dominados
por esse sentimento trágico da vida, não sucumbiram ao pessimismo. A resposta
que encontrou foi à mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se entregaram ao
pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza
não elimina a tragédia, mas a torna suportável.
A felicidade é um dom que deve
ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São
os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Sofrimento que faz
pérola, raramente é sofrimento físico... Na maioria das vezes são dores da
alma!!!
(Rubem Alves)
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